sexta-feira, agosto 05, 2005

Saudade

Tenho saudade de ti
Porque me envolves com essa prontidão
Porque tratas de mim
E eu não.

Porque me dás com prazer
Vagas de devoção
E a inconsistência do teu querer
Dá à inevitabilidade do meu ser
Uma certeza sem senão.

Tenho saudade de te
Envolver com esta prontidão
Porque eu trato de ti
E tu não.

Há muito tempo atrás escrevi este texto

Como um cego que não vê, não cheiro; como um surdo que não ouve, não cheiro; como um mudo que não fala, não cheiro; como um paraplégico que não anda, não cheiro. Não cheiro omar, as flores, os cabelos, os perfumes, a comida e tudo o que me rodeia. É assim que eu passo os meus dias, mas não é assim que passo as minhas noites.
Nas noites escuras pintadas de um negro negro, no refúgio da minha cama, os meus olhos desfalecem e eu entro num sonho mágico, um sonho que me devolve ao dia e é aí que eu passo as noites dos meus dias.
A caminho da praia os carros passam e deixam um leve perfume, um fumo intenso, mas um leve perfume a pequenos gases queimados. Eu inalo profundamente este cheiro para que ele se torne meu conhecido. A seguir, uma mulher que se dirige para mim numa corrida veloz pára à minha frente e eu cheiro o suor que lhe escorre pela delicada pele. De repente, parou e volta a arrancar e os seus cabelosondulantes batem-me na cara e largam um perfume de doces camomilas e ásperos alperces, e eu inalo profundamente este cheiro para que ele se torne meu conhecido.
Agora que me aproximo do mar, a sua brisa ataca-me com leves salpicos de água dura e o seu perfume une-se com os dos peixes dando a mais harmoniosa ligação, e eu inalo profundamente este cheiro para que ele se torne meu conhecido. E ao longo do mar os cães vêm ter comigo e lambem-me, e a sua língua arrasta a minha pele. O seu cheiro intenso a mãos que lhe coçaram o pêlo é magnífico, e eu inalo profundamente este cheiro para que ele se torne meu conhecido. Continuo sem parar porque o despertador ainda não tocoue eu ainda não acordei. Passo os restaurantes e o cheiro a comida é maioritário. Os fritos, os cozidos, os assados, transformam-se apenas num, e eu inalo profundamente este cheiro para que ele se torne meu conhecido. Assim, chego ao jardim onde as crianças brincam, as flores nascem, e o cheiro a reina, pego numa flor e levo-a a uma criança para que ele limpe o desperdício de cheiros que calcou, e eu inalo profundamente este cheiro para que ele se torne meu conhecido.
E acordo e durante um segundo todos estes cheiros se reúnem e eu consigo cheirar, mas depressa eles se vão, e eu espero. Espero que o dia passe rápido para que eu possa cheirar, nem que seja por uns breves instantes no meu sonho perfumado...
10º A (tinha eu 15 anos)